domingo, 1 de fevereiro de 2009

CONHECIMENTO X SABEDORIA

Diz o repórter ao atleta - Qual a dinâmica proposta pelo técnico Roth para o segundo tempo? Para tal pergunta a resposta foi incrível - É, vamo fazê a mesma coisa já que pra nós tá bem assim e realmente se Deus quiser vamo saí bem e dá alegria pra nossa torcida... Vi que o repórter, pouco entendedor de futebol, tentou evidenciar grande sabedoria diante do entrevistado. Resumo da história: pergunta errada, resposta correta. O contraste entre conhecimento e sabedoria diminui muito em um campo de futebol. No esporte reina a malícia inteligente. A linguagem do futebol é compreendida universalmente e só tem complexidade para quem imagina que o esporte se resume a 22 homens correndo atrás de uma bola. As regras são objetivas, uma relação entre equilíbrio e harmonia, enquanto qualquer objeção a esses princípios se constitui em irregularidade. O impedimento, por exemplo, é um caso de desequilíbrio, quando alguém recebe o privilégio do passe para a finalização, diante de apenas um adversário. A regra é clara nessa situação e a jogada deve ser penalizada com uma cobrança em dois toques. Qual a razão dos dois toques? Simples: harmonização! O futebol não pode prescindir da harmonia dos passes, dos lançamentos e cruzamentos. Da mesma forma, drible no futebol de alto nível é uma faculdade dos talentosos e um expediente pouco utilizado pelos menos habilidosos. A geografia do jogo, o posicionamento dos atletas, a existência de uma grande e de uma pequena área, tudo isso é fundamental e tem harmonia com o tamanho das goleiras: exatamente 7,32m X 2,44m. Daí vem a resposta objetiva de que goleiro precisa ser mais alto.
O repórter da entrevista "dinâmica" talvez tenha entendido o jogo pelos princípios do conhecimento e nada reúne de sabedoria na modalidade.
Certa vez, em um seminário, dois palestrantes ocuparam a noite para falar sobre o mesmo tema. O primeiro, um PhD por uma universidade dos Estados Unidos e o segundo, um professor de carreira. O primeiro foi erudito, elegante e chato. O segundo, simples, objetivo e encantou. Disseram a mesma coisa de formas diferentes. Quando encerrou a segunda palestra percebi a razão do professor de carreira ter feito tamanho sucesso: Ele tinha sabedoria sobre o que falava e sobre como deveria falar para o público que encontrava naquele lugar. O outro, tinha conhecimento, muito conhecimento, sem sapiência, sem perspicácia. Em vez de expressar sua opinião sobre o assunto, apenas mostrava que entendia do tema. Em todas as áreas é perceptível a necessidade de se utilizar o conhecimento com sabedoria. Ningém precisa ver "o que é" Todos querem e devem saber "como é". Tenho outro exemplo clássico no turismo, onde mais importante que conhecer um lugar é saber o que aquele lugar representa.
O futebol me encanta com suas dinâmicas e de sua complexidade extraio respostas simples que justificam ser essa a maior paixão desportiva mundial. Aliás, Futebol não é unanimidade, mas um fenômeno mundial onde o escasso conhecimento da maioria se emociona com a sabedoria de alguns e vira paixão. Você já percebeu que enquanto os milhares de torcedores torcem e sofrem o tempo inteiro, os atletas pensam, planejam, projetam e executam? Vale a máxima: O centro das atenções é sempre de quem tem sabedoria. Eles dominam a funcionalidade do expectáculo. Os outros?