sexta-feira, 13 de maio de 2011

A FARRA DOS PASSES

É sempre assim: quando nasce uma lei, os malandros se apressam e, mais ainda ligeiros ficam quando esta lei é alterada.
Ocorre que as recentes alterações na Lei do Desporto determinam um alento para os clubes de futebol, abrem o leque do apoio ao desporto nacional e praticamente anulam a farra dos "empresários".
Para analisar a mudança resolvi traçar um breve histórico do futebol profissional no Brasil, prova clarra desta afirmativa.
No início o amadorismo reinou, isso durante décadas, até 1967, com o advento da instituição da Lei do Passe quando os governantes se deram conta que aquele esporte praticado pelos pobres era unanimidade mundial, sendo muito útil para mascarar as mazelas do sistema totalitário e ditatorial que imperava no país, e mais tarde, em 1976, com o reconhecimento da relação de trabalho do atleta profissional. De qualquer maneira o futebol virou ópio popular de maneira que o pacificado povo brasileiro ficou fadado a se inebriar na paixão futebolística para apagar a tristeza imposta pela repressão da época.
No entanto, a lei que disciplinou o futebol como trabalho, transformou jogadores em empregados "propriedade" de muitos clubes que na época eram tocados por "cartolas", uma espécie de bicheiro misturado com cafajeste, que confundiam esporte futebol com turfe, já que a única diferença para o jogador de futebol e o cavalo era que o cavalo tinha jóquei e não recebia salário.
Mais um tempo passou, os anos de repressão chegaram ao fim e nos anos 80 renasceu a esperança do povo em um futebol arte, evidenciado pela sabedoria de treinadores como Rubens Mineli e Telê Santana, bem como dignificado por defensores do respeito e da dignidade da profissão e das instituições desportivas brasileiras como os jogadores Zico, Sócrates, Toninho Cereso, Falcão e, claro, o Rei Pelé, articulados e participativos na sociedade.
Fruto de tudo isso foi a inserção de critérios políticos honestos que começaram a ser alcançados com o surgimento da Lei Zico. Nela o "Galinho de Quintino" fez a primeira grande tentativa de modernizar, qualificar e equilibrar a relação entre clubes, competições, atletas, instituindo o esporte como instrumento de educação e lazer. Apesar disso, inseriu um artigo para abrigar espertalhões, o 57, que instituíu o bingo e assim fez corroer todo o idealismo da lei, maculando seus propósitos maiores.
Mais tarde a Lei Pelé veio como mecanismo de amadurecimento do processo desportivo brasileiro, arrumou a casa, estabelecendo uma maior autonomia para os empresários, porém deixou os clubes à mercê de oportunistas que se valeram da modificação no sistema para se locupletarem em detrimento de atletas, clubes e até mesmo as famílias dos jogadores de futebol. Os ditos empresários foram e são, na maioria, pessoas sem nenhum preparo que ficam como corvos rondando clubes para tentar algum inocente atleta de futuro e ludibriar o atleta até o último centavo.
Claro que existem os agentes e procuradores sérios, competentes, mas há muito malandro que se deu bem até 2011, no ano da virada, que passo a explicar:
Com as modificações na Lei Pelé, que gosto de chamar de Lei Dilma, nada contra Pelé ou da famigerada Lei do Passe, mas é que Lei Dilma fica com um tom mais ameno e hígido...
Bem, para resumir, a Lei Dilma é um grande desafogo para os clubes e poderia ser perfeita, não fossem as surrupiadas que alguns grandes clubes estão dando contra seus concorrentes, já que a partir de agora, os menores são dos clubes, mas ainda ninguém é de ninguém. Não é raro saber que um garoto foi levado do clube A para o clube B sem ´sequer dar satisfação a aquele que o estava formando.
Mas, por enquanto, vous dar um tempo. Muita água vai rolar e espero que com um pouco de honestidade os clubes passem a agir de maneira respeitosa e inteligente diante de uma das mais importantes transformações vivenciadas no futebol brasileiro das últimas décadas.