terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

VANTAGENS TRABALHISTAS

Interessante a decisão do eminente Juiz do Trabalho Dr. Rafael da Silva Marques, que determinou a proibição de realização de jogos de futebol entre 10 e 18 horas e, logo depois, autorizou jogos após às 18h somente em caso de temperatura inferior a 35 graus. Tal decisão deve ser respeitada em nome da autonomia da Justiça e da garantia do Estado Democrático de Direito, mas é difícil concordar.
Atendendo a um pedido do Sindicato dos Atletas Profissionais do Rio Grande do Sul, é legítima, mas contraria o bom senso. No entanto se o sol e o calor causam riscos e o sentido é de defender a integridade física de profissionais, deveria se exigir mudanças também para outras categorias, como as que cito agora:
- Os policiais deveriam ter mais limitado o horário para cumprir decisões judiciais. As prisões com mandado somente poderiam ocorrer do nascente do sol até 10h, ou após às 18h, até o poente.
- Salva Vidas não poderiam mais atuar entre 10h e 18h, o que obrigaria que fosse proibido o banho nas praias nesse período, já que as guaridas não protegem suficientemente os profissionais.
- Carteiros somente poderiam entregar cartas nas primeiras horas da manhã ou logo ao anoitecer.
- A construção civil somente poderia atuar com a utilização da robótica entre 10 e 18horas, já que os pedreiros poderiam ficar insolados. O adicional noturno, claro, seria obrigatoriamente incorporado aos seus salários, pois somente poderiam laborar fora daquele determinado horário.
- O trânsito de veículos (seria muito bom para o meio ambiente) somente poderia ocorrer antes das 10h ou após às 18h, já que os policiais não poderiam atuar diante de um calor tão intenso.
Antes de acontecer isso tudo, analisemos alguns importantes pontos.
- Em 1994 o Brasil foi campeão da Copa do Mundo dos Estados Unidos e os jogos aconteceram em sua maioria às 12h, com um calor escaldante que se aproximava dos 40 graus. Os erros nas cobranças de pênalti dos italianos que deram o título ao Brasil, poderiam ser questionados no Tribunal da FIFA?
- Os atletas profissionais, que ganham fortunas e tem uma elevadíssima performance orgânica, uma resistência infinitamente superior a qualquer cidadão, tem suas aposentadorias na maioria das vezes com menos de vinte anos de serviço e legislação trabalhista privilegiada e específica, spodem ser vistos como superiores a qualquer outro trabalhador que é obrigado a trabalhar de sol a sol?
São perguntas que precisam ser feitas.
Um motorista de ônibus trabalha diariamente cerca de dez horasem um calor infernal; os padeiros atuam nos fornos vivendo com temperaturas que alcançam 50º em seus respectivos ambientes; os cozinheiros enfrentam a mesma dificuldade e a nenhum deles é dada qualquer prerrogativa além do parco salário, tampouco se comenta sobre sua integridade física.
Sugiro aos que concordam com a decisão que se organizem e montem uma grande mobilização mundial. Diante do aquecimento global, dos contrastes meteorológicos, a decisão do Juizo Trabalhista até pode ser considerada acertada, desde que sirva de início para a fase em que todos, no melhor estilo Jô Soares, passarão a dormir durante o dia e trabalhar somente à noite.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Educação Inteligente?

O que você acha da educação? A maioria das respostas dizem dos problemas do sistema de ensino, da desestrutura das escolas, do despreparo e desestímulo dos professores, dos investimentos equivocados pelos governos, sem contar com o fato de a tecnologia ser uma das maiores desculpas para o "empreguissamento" dos estudantes. Na minha ótica, o problema é só um: Está tudo errado! O caminho da educação passa pelo termo INTELIGÊNCIA, que sempre é esquecido quando se analisa o setor educacional. Não me refiro a alunos e professores inteligentes, mas em educação inteligente.
Temos um sistema de educação limitado, pré formatado, ultrapassado, negativo e responsável pelo desestímulo aos estudantes e forçoso comodismo aos educadores. A culpa não é deles, é do sistema, da forma como é feito. Em vez de centro permanente de construção do conhecimento, a escola se transformou ao longo do tempo em centro de preenchimento de horário de descanso para os pais. História, Geografia e Língua Portuguesa ainda são chamadas de disciplinas, quando deveriam ser tratadas como atrações.
Imagine a divulgação aos alunos na segunda-feira pelos autofalantes de um educandário público: "E atenção, hoje na sala 203 a Mestra Maria da Silva apresenta: CV - Isso mesmo! Conjugação Verbal! Você vai falar legal, você vai se transformar em um vencedor conjugando todos os verbos com perfeição! Logo depois, o professor Armando Quintanilha apresenta... Variações climáticas e seus reflexos na economia - Um show de geografia"
Claro que em temas mais complexos, seria necessário um diferencial. Na matéria matemática, por exemplo, o Governo deveria investir em prêmios e teríamos o seguinte anúncio: "Amanhã, a educadora Cláudia Pitagorina vai avaliar logarítimos decimais e equações exponenciais. Os primeiros colocados concorrem a um par de tênis Nike com plataforma!"
Mas para isso é necessário haver uma política de incentivo verdadeira. Não adianta construir salas, implantar centros de informática, cobrir ginásios, se as bibliotecas ainda são esconderijos de poucos e os professores não dão mais shows, aliás, muitos sequer sentem honra em ser professor.
Minha mãe foi uma grande professora. Com muita dificuldade, viajando em estrada de terra de Alegrete para Uruguaiana, com recursos escassos, formou-se em 1968 em pedagogia. Mais tarde fez especialização em educação, metodologia de ensino e didática. Passou a sua vida toda dizendo aos estudantes universitários que a educação é o caminho da felicidade e fazia questão de recordar as lágrimas de emoção que deixara cair a cada criança que conseguira alfaberizar. Acreditou sempre e deixou um legado extraordinário aos seus alunos e também a este filho que só resolveu estudar depois de ela ter partido para a eternidade.
Ao retomar a caminhada em 2001, aos 37 anos, percebi que a Universidade tem um pouquinho do que ela defendia e que ainda há uma esperança. A esperança é de que os professores descubram um jornalista em suas mentes e um artista em seus corações. A saída está com os educadores, mesmo que se insista que o caminho está no investimento e na valorização. Toda a classe precisa fazer a diferença, deixar de lembrar a situação difícil onde historicamente está colocada e perceber que o caminho é ele, o educador quem faz e só ele que pode mudar o quadro de descrédito instalado. O professor precisa ser capaz de analisar a grade pedagógica e sintetizá-la como o jornalista faz com o fato. Depois, precisa ser um artista, para evidenciar o ensinamento criado em algo verdadeiramente atrativo, interessante e necessário. Precisa se perguntar: "o que o aluno ganha com a aula que vou dar?"
Não adianta entrar para a aula falando inglês. É necessário dizer o que o aluno precisa fazer para aprendere a interagir com ele e também falar inglês como o professor. Não adianta dar trabalho para casa e acolher as cópias da internet, a escola da vida está dando aula às escolas convencionais e os alunos sabem mais que os professores sobre o real que vivenciam no dia a dia.
Os filhos deixaram de dar bênção aos pais, os jovens deixaram de pedir licença às pessoas mais velhas e apelidaram isso de falta de educação. Mas foram os pais e os mais velhos que ensinaram! alguém vai dizer que os pais não deixaram de ouvir seus filhos ou afirmar que os mais velhos alguma vez pediram licença aos mais jovens?
O mundo evoluiu, a cultura evoluiu. Hoje é permitido pensar, debater, discordar. O sistema educacional brasileiro ainda não aprendeu essa lição.