terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O QUE É FUTEBOL

Ouvindo o programa Sala de Redação na tarde de ontem (19/12/2011), fiquei pasmo diante da falta de concordância com algo que ficou plácido na final mundial entre Barcelona e Santos, em que o Barcelona jogou como jogava o Santos na década de 60 e o Santos jogou como o sempre jogou o Santos de Murici Ramalho em 2011.
Diante do futebol jogado pela equipe catalã, os comentaristas fizeram conjecturas variadas e estéreis pois não condizentes com a realidade do futebol jogado pelo melhor time do mundo que, em resumo, é feito com o mais perfeito ingrediente do futebol: a simplicidade.
Qualquer criança concorda que é mais fácil dar um passe que fazer um drible e todos concordam que estar no lugar certo e na hora certa é mais eficaz que tentar andar por todos os lugares.
Ora, o barcelona desenvolve um futebol simples, de passes certos no tempo ideal para evitar a reação do adversário e isso é conseguido através de muito treinamento com atletas qualificados e eficientes, tanto no passar como no receber a bola com velocidade e precisão.
Ficar palpitando se o esquema é 4-4-2 ou 3-5-2, vá lá, é o máximo que conseguem enxergar os leigos da bola. Agora supor que o Barcelona adota o 5-7-0 ??? Aí já é realidade transformada em ficção.
É óbvio que um time que possui um passe perfeito, não pode prescindir da volatilidade nos posicionamentos e isso o Barça faz com desenvoltura e mais caprichadamente o fez contra o Santos, pois aquele era o momento de provar se eram eles realmente os "melhores do mundo". Para o Santos, era um tiro na lua.
Claro que o Messi faz uma diferença, aliás, a diferença é que além de passar e receber bem os passes, ele tem o talento do drible rápido, o que não autoriza que o "craque" do Santos diga que foi uma aula de futebol. Não mesmo, o que aconteceu foi apenas uma lição de um futebol jogado a partir de muito treinamento e de um espírito de equilíbrio acrescentado de harmonia entre os jogadores.
Quando eu ainda era menino nas categorias de base do Grêmilo, via os saudosos treinadores Adão Pereira e Paulo Lumumba insistirem que seus jogadores ofensivos aprendessem a conduzir a bola próxima do corpo com toquezinhos sutis, de modo a evitar que ela fosse "roubada" por um marcador mais atento. O resultado apareceu nos inúmeros craques que marcaram gerações inteiras de grandes jogadores da década de 80, em especial no time do Grêmio que papou o mundial com Renato Portaluppi e outros.
Portanto, apesar de adorar o programa da Gaúcha e reconhecer nos seus participantes os melhores analistas de futebol do Brasil, não posso deixar de dizer que a constância da repetição sobre o que é futebol os está impedindo de perceber que a diferença do melhor time do mundo está no fato de ser igual aos melhores times que o mundo já viu jogar, seja Santos dos anos 60, Seleção Brasileira de 70, Flamengo dos anos 70/80, dentre outros que tinham nas tabelas, nos passes rápidos e no envolvimento dos adversários pelo passe, sua marca diferencial.
Reconhecer que o Barcelona joga de maneira simples é um ato que exige muita coragem. Fica mais fácil e menos perigoso apenas afirmar que o Barcelona é uma exceção na história da humanidade e que o "Carrossel Holandes" que assombrou o mundo, nada mais foi que uma ilusão do passado.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

O FRANGO VOADOR

Existe a fábula infantil do Patinho Feio, que chocado e criado pelas galinhas, ao descobrir que era pato voltou a ser feliz e se encontrou navegando como um belo de sua estirpe, esquecendo o malfadado período do galinheiro, quando era maltratado pela diferença que tinha dos irmãos. Mesmo diante desta fábula magnífica, há uma nova que não quer calar: éa do Frango Voador.
A história inicia da mesma maneira, mas se estende até o momento em que ao descobrir que era um pato, resolveu abrir as asas e se libertar da opressão do galinheiro.
Só que diferente do patinho feio, quando voou, se afastando do galinheiro, as galinhas, muito ignorantes, pensaram que ele era um frango voador e ficaram a cocorejar impressionadas com o inédito feito. Batiam as asas na tentativa de imitar o jovem frango voador, mas não saíam do chão.
Ele poderia terpartido para sempre, mas tratando-se de um pato de princípios nobres, resolveu retornar ao galinheiro para demonstrar que não tinha mágoas com as galinhas que tanto o maltrataram na infância e que agora, vendo ele um frango voador, poderiam  dar a ele um pouco do carinho que haviam economizado.
Ledo engano do pato: o "frango voador" como era conhecido desde recente partida, ao retornar foi recebido com desprezo e raiva.
Já de início as galinhas começaram a cocorejar como se vaiassem e aquela que fora sua chocadeira-mãe virou-lhe as costas, enquanto o galo, cheio de arrogância peitou-o determinando que desaparecesse dali.
Porém, como havia crescido e ficado mais forte, não se amedrontou com o galo, alçou vôo até o ponto mais alto do puleiro e entoou o seu "quá" que estava guardado.
Mais um instante e partiu para nunca mais voltar.
Ele foi feliz para sempre e ainda dá suas patadas naquela região.
Já o galinheiro continua lá, cheio de galinhas e com um galo que não é de nada, mas acha que é de tudo.
Assim é a vida dos homens. Aqueles que descobrem que não são frango do mesmo galinheiro, encontrando meios para voar, partem e não mais voltam.
Se retornarem, as galinhas e os frangos ficarão incomodados pelo seu talento incomum e o galo vai buscar meios de expulsá-lo.
É que mentes galináceas jamais vão entender o valor da vida que há além do galinheiro.

domingo, 27 de novembro de 2011

A NOVA ADVOCACIA

Existe uma nova advocacia no Brasil, diversa daquela em que o trabalho acontecia dentro de uma formalidade estável e as leis eram companheiras da consciência coletiva. Como dizem os colegas experientes, advogar era o ato de representar o cidadão ou a instituição a partir da transcrição lógica dos fatos à realidade jurídica, o que hoje é impossível de acontecer.
A nova advocacia exige muito mais dos profissionais, que atualmente precisam estar além da interpretação lógica dos fatos, passando a atuarem como intérpretes dos fins buscados pelos clientes. Não é mais apenas defender direitos: é defender idéias, sabendo que a riqueza das informações serve tanto para subsidiar os atos jurídicos, como para fragilizar as teses que delas se extraiam.
Simplificando, o meu escrito de hoje é um alerta para o fato de que atualmente, quando um cliente chega ao seu escritório, você, como advogado, não pode se dar ao luxo de inventar, criar expectativas ou mesmo prometer, mas necessita alertar sobre os riscos que existem no curso das ações jurídicas.
É comum receber clientes que chegam orientados por alguns colegas que dizem que tudo é possível. Mando-os de volta aos "sábios" que os orientaram ou ofertaram seus serviços, mesmo que isso me doa pelo prejuízo econômico.
Parece que todo o empregado demitido tem direito a receber além do que lhe foi pago, mesmo que tudo o que se pagou tenha sido correto! Há clientes que chegam a dizer que possuem "amigos" que poderão funcionar como testemunhas. Há também os casos daquela pessoa que deve até os dentes, mas ouviu que uma amiga que estava na mesma situação foi a um escritório que deu um "jeitinho" e a tirou da lista dos devedores. Dia desses uma pessoa chegou aqui dizendo que queria "ferrar" um vizinho pois tal pessoa estaria gastando muito dinheiro e que provavelmente estivesse envolvida com o tráfico. As afirmações possuem um conteúdo que resultam de uma imagem errada que um grande número de pessoas possui sobre o papel do advogado. Ora, que absurdo é viver neste novo tempo de advocacia?
Não sou perfeito e tampouco possuo muita experiência, mas me dedico com paixão por todo o ato jurídico que parte de meu escritório. Isso é o que vale e é o motivo dos momentos felizes da minha caminhada.
Sou um advogado novo (apesar dos 48 anos), mas não pertenço a essa nova advocacia onde um colega sequer cumprimenta o outro no elevador, mesmo trabalhando no mesmo prédio, quando deveria enaltecer o seu par; onde o valor do trabalho é medido pelo bolso do cliente e não pela complexidade do ato, ou mesmo onde a verdade não precisa ser verdade, mas apenas uma "tese" de uma verdade interessante para o meu cliente.
É impressionante como as pessoas não pensam mais em ver os seus direitos atendidos, mas apenas os seus interesses são os fatores que valem e, pior, alguns profissionais coadunam com essa posição, estimulando que se analise a causa pelo interesse e não pelo direito.
A Justiça não pode servir aos interesses de um quando a este não é garantido o direito. É uma frase simples, objetiva e inquestionável, mas esquecida por aqueles que precisariam lembrar todos os dias que a nossa vida é passageira e que devemos fazer o melhor possível para que a humanidade evolua.
Esforcei-me um tanto e mais para passar no Exame de Ordem, lutei muito e tive grande apoio para abrir meu escritório, e é por essas razões que sou feliz com o que faço. Mesmo assim, dói saber que alguns profissionais não honram tão valoroso labor e contribuem para que, apesar de todo o bem que se faz nesta operosa missão, ainda esteja na consciência popular que o advogado é uma inteligência na defesa da injustiça.
O Brasil necessita e merece discutir a ética no exercício da advocacia.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

ADEUS CHICÃO

Ele era um homem destemido, determinado e apaixonado por tudo o que encarava como missão. Recebeu esse estilo do Tenente Jaques, seu grande líder inspirador.
Conheci Chicão como lateral direito do Cruzeiro. Era um guerreiro em campo tendo como principal característica o "carrinho", a marcação forte, o passe cuidadoso e uma liderança nata, que contagiava seus companheiros e amedrontava os adversários.
Sendo um cabeludo e barbudo, o polaco como o chamavam aqueles muito mais chegados, nem parecia ser um conceituado Engenheiro Civil e empresário do ramo da construção civil.
Tudo o que fez em sua vida teve intensidade. Casou ainda moço com uma mulher extraordinária, Heloisa, com quem teve quatro filhos maravilhosos: Rodrigo, o mais velho, que seguiu a profissão do pai, Gabriel, o segundo, Carolina e Raquel.
Sua vida intensa e de mutações rápidas, fez com que acabasse separado daquela que jamais deixou de ser sua Companheira.
Ingressou na política e aí foi imbatível, iniciando como Vice-Prefeito, passando a Prefeito e daí a Deputado Estadual foi um pulo.
Chicão teve mais filhos, outros dois casamentos.
Partiu cedo, com a intensidade que viveu.
Deu-me momentos magníficos de felicidade. Foi meu padrinho de casamento e sempre solícito comigo e com todos.
Meu adeus a ti Amigo!

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

AS ILUSÕES DO FUTEBOL... E DA VIDA

Alguém falou que futebol e ilusão são sinônimos? Bem, ao que eu entendo, o futebol só não é ilusão para aqueles que vivem dele, já os que vivem para ele, tudo não passa de ilusionismo, senão vejamos:
- No futebol é comum ouvir as pessoas dizerem frases como "Bah! Ontem jogamos muito mais que vocês!" ou "Não adianta, somos melhores!". Ora, a pessoa que está falando sequer sabe chutar uma bola e nunca jogou contra quem quer que seja! Quanto a "sermos melhores", de quem está falando? Dela mesma é que não é!
- Existem pessoas que preferem fazer um lanche no sábado para guardarem dinheiro para o ingresso do jogo domingo e na segunda-feira reclamam: "Não tenho dinheiro pra nada!"
- No futebol, os diretores são conhecidos como cartolas, participam de diretorias, esquecem as famílias para se dedicarem às reuniões do clube e a todas as atividades pertinentes a seus cargos e por incrível que pareça, não recebem qualquer remuneração por isso.
- É comum ver um jogador surgir do nada e se transformar em uma mega estrela. Das havaianas ilegítimas eles passam direto para o Porsche Caienne, bastando para isso algumas jogadas de efeito e, o mais interessante, quando se tornam milionários passam a ser celebridades, indiferente a sua formação cultural e intelectual.
Mas não há problema, o Ser Humano precisa de ilusões e, por outro lado, o Santos está magnífico e Neymar é inigualável (claro, todo mundo é diferente dele, aliás, todo mundo é diferente de todo mundo!). O Grêmio luta para suprir a gorda folha de pagamento de seus "craques, mas ao mesmo tempo constrói um dos mais modernos estádios do planeta. Já o Inter se arrasta para concretizar a obra do beira rio para a Copa e se a Andrade Gutierres não for boazinha, a Copa não acontece lá.
Enfim, o futebol é assim! Quanto à vida? Bem, a vida está precisando de novas ilusões como, por exemplo, a Copa de 2014, para a qual gastaremos bilhões de dólares tentando mostrar para os outros Países que o nosso País não é como eles pensam. Será que conseguiremos?
Concluindo, a vida e o futebol são duas grandes ilusões. Vai aí uma poesia?

terça-feira, 21 de junho de 2011

A NOVA ORDEM NO ESPORTE

A "Nova Ordem" do Futebol Brasileiro é: PROCURE UM ADVOGADO!
A afirmativa pode parecer irônica, mas não é! Ocorre que as alterações da Lei Pelé, além de não resolverem o emaranhado de controvérsias do setor, acabaram por implantar mecanismos que somente podem ser decididos pelos tribunais, seja na órbita cível ou trabalhista. As mudanças passaram a ser operadas sem anestesia e paira no ar uma situação popularmente conhecida como "buxixo". A seguir, alguns questionamentos interessantes:
- No caso dos contratos anteriores às inovações da lei Pelé em 2011, valem as regras da época ou as atuais? Somente nossos respeitáveis magistrados vão responder, afinal, em alguns casos as leis anteriores são benéficas aos clubes e em outras ao atleta. Na seara trabalhista, são maiores as controvérsias quanto à liberdade do atleta em optar pelo clube que melhor lhe convier,  o seu grau de responsabilidade para com o clube contratante, isso sem falar da excepcionalidade dos empréstimos, onde as responsabilidades, antes transferidas ao cessionário, agora são repartidas com o cedente. Ao mesmo tempo os clubes se deparam com uma insegurança diante da ação de entidades desportivas concorrentes e uma total falta de clareza quanto ao caso de descumprimento de cláusulas inseridas nos novos contrato. Isso tudo enquanto na área cível, a maior contradição está sobre os direitos dos investidores, o fim da famigerada "cláusula penal", trocada por outra cláusula não menos penalizadora que a anterior, enfim... Muito a se debater nos tapetões! 
- A nova Lei determina que 15  dias antes de completar 18 anos o atleta deva se manifestar se pretende fazer contrato com seu clube, mas qual valor teria a manifestação do atleta menor?
- Até o momento nenhum clube sequer foi certificado pela CBF como Clube Formador. Quando se estabelecer tal certificação, quem irá inspecionar? Como se poderá averiguar o cumprimento de todas as obrigações dos clubes para com seus atletas? E no caso dos atletas que abandonam seus clubes ainda jovens, retornando daí a algum tempo em outras agremiações, como e quem punir?
Bem, vamos por etapas...
Por enquanto é isso! Futebol, bol, bol, do Brasil, sil, sil!

quinta-feira, 2 de junho de 2011

CLUBES ADORMECIDOS

Muito se reclama do excesso de leis vigentes no País e da falta de funcionalidade das mesmas diante da ineficácia do ordenamento legal, esquecendo-se que temos uma população por vezes acomodada diante das mudanças do cotidiano. A velocidade dessas mudanças é um fator determinante para o sucesso dos que pretendem aproveitar seus benefícios, mas perigoso quando se tem um adormecimento de setores da sociedade que, mesmo sendo beneficiados com os avanços legais, esperam que um trovão de realismo os desperte para efetivar as necessárias modificações em suas caminhadas.
Refiro-me ao setor esportivo do Brasil, já que recentemente a lei que regula o desporto, conhecida como Lei Pelé teve avanços extraordinários e, pasmem, somente algumas poucas organizações clubísticas estão se preparando para o enfrentamento às mudanças. Os exemplos são inesgotáveis, dos quais selecionei três que aqui apresento:
- Os clubes de futebol, caso pretendam sobreviver no futuro, precisam se reestruturar e implantar um sistema de excelência para o atendimento aos jovens atletas. Tais modificações são simples e se referem ao que os poucos "grandes" do Brasil fazem, como dar a guarida e a formação eficaz para os menores com potencial para se tornarem grandes craques.
- A estrutura física das entidades pode agora ser implementada através de recursos públicos, especialmente quando de projetos promovidos por instituições desportivas sem fins lucrativos, a partir de projetos voltados ao Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Desporto, o que já está vigindo, sendo que poucas dezenas de entidades desportivas se habilitaram. Aqui no Rio Grande do Sul, só sei de duas. O interessante que é só ter um projeto dentro dos parâmetros e podem ser construídos centros de treinamentos, alojamentos, vilas olímpoicas, enfim, há o dinheiro e faltam projetos.
- Os clubes agora não terão o incômodo de clamar aos empresários uma oportunidade de levar "algum" nas negociações. Aquela situação em que o empresário simplesmente decidia e levava o atleta embora, está com os dias contados.
Os três exemplos são apenas um pouco do muito que está acontecendo, mas os clubes ainda não despertaram para o horizonte de fartura que se oferece à frente.
Enquanto isso, cá estou eu oferecendo meus serviços, na certeza de que com uma boa assessoria todas as organizações poderão alcançar o patamar de equilíbrio e desenvolvimento que merecem.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

A FARRA DOS PASSES

É sempre assim: quando nasce uma lei, os malandros se apressam e, mais ainda ligeiros ficam quando esta lei é alterada.
Ocorre que as recentes alterações na Lei do Desporto determinam um alento para os clubes de futebol, abrem o leque do apoio ao desporto nacional e praticamente anulam a farra dos "empresários".
Para analisar a mudança resolvi traçar um breve histórico do futebol profissional no Brasil, prova clarra desta afirmativa.
No início o amadorismo reinou, isso durante décadas, até 1967, com o advento da instituição da Lei do Passe quando os governantes se deram conta que aquele esporte praticado pelos pobres era unanimidade mundial, sendo muito útil para mascarar as mazelas do sistema totalitário e ditatorial que imperava no país, e mais tarde, em 1976, com o reconhecimento da relação de trabalho do atleta profissional. De qualquer maneira o futebol virou ópio popular de maneira que o pacificado povo brasileiro ficou fadado a se inebriar na paixão futebolística para apagar a tristeza imposta pela repressão da época.
No entanto, a lei que disciplinou o futebol como trabalho, transformou jogadores em empregados "propriedade" de muitos clubes que na época eram tocados por "cartolas", uma espécie de bicheiro misturado com cafajeste, que confundiam esporte futebol com turfe, já que a única diferença para o jogador de futebol e o cavalo era que o cavalo tinha jóquei e não recebia salário.
Mais um tempo passou, os anos de repressão chegaram ao fim e nos anos 80 renasceu a esperança do povo em um futebol arte, evidenciado pela sabedoria de treinadores como Rubens Mineli e Telê Santana, bem como dignificado por defensores do respeito e da dignidade da profissão e das instituições desportivas brasileiras como os jogadores Zico, Sócrates, Toninho Cereso, Falcão e, claro, o Rei Pelé, articulados e participativos na sociedade.
Fruto de tudo isso foi a inserção de critérios políticos honestos que começaram a ser alcançados com o surgimento da Lei Zico. Nela o "Galinho de Quintino" fez a primeira grande tentativa de modernizar, qualificar e equilibrar a relação entre clubes, competições, atletas, instituindo o esporte como instrumento de educação e lazer. Apesar disso, inseriu um artigo para abrigar espertalhões, o 57, que instituíu o bingo e assim fez corroer todo o idealismo da lei, maculando seus propósitos maiores.
Mais tarde a Lei Pelé veio como mecanismo de amadurecimento do processo desportivo brasileiro, arrumou a casa, estabelecendo uma maior autonomia para os empresários, porém deixou os clubes à mercê de oportunistas que se valeram da modificação no sistema para se locupletarem em detrimento de atletas, clubes e até mesmo as famílias dos jogadores de futebol. Os ditos empresários foram e são, na maioria, pessoas sem nenhum preparo que ficam como corvos rondando clubes para tentar algum inocente atleta de futuro e ludibriar o atleta até o último centavo.
Claro que existem os agentes e procuradores sérios, competentes, mas há muito malandro que se deu bem até 2011, no ano da virada, que passo a explicar:
Com as modificações na Lei Pelé, que gosto de chamar de Lei Dilma, nada contra Pelé ou da famigerada Lei do Passe, mas é que Lei Dilma fica com um tom mais ameno e hígido...
Bem, para resumir, a Lei Dilma é um grande desafogo para os clubes e poderia ser perfeita, não fossem as surrupiadas que alguns grandes clubes estão dando contra seus concorrentes, já que a partir de agora, os menores são dos clubes, mas ainda ninguém é de ninguém. Não é raro saber que um garoto foi levado do clube A para o clube B sem ´sequer dar satisfação a aquele que o estava formando.
Mas, por enquanto, vous dar um tempo. Muita água vai rolar e espero que com um pouco de honestidade os clubes passem a agir de maneira respeitosa e inteligente diante de uma das mais importantes transformações vivenciadas no futebol brasileiro das últimas décadas.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Craques do Brasil

Um novo tempo está chegando para o futebol brasileiro, com o fortalecimento dos clubes, a qualificação da imagem de uma nação que apenas gerava novos talentos para uma das principais vitrinas do esporte mundial. A Copa de 2014, mais que uma vitória política, constitui-se em um gigantesco teste que, a meu ver, será superado com talento por todos os brasileiros. As Olimpíadas poderão se constituir em uma confirmação da qualidade do País para sediar grandes eventos e assim passar a ser visto com mais respeito pelas grandes potências desportivas do planeta.
Tudo muito bonito a uma primeira vista, mas fundamental que se faça uma análise aprofundada a respeito dos riscos e das necessidades.
Não creio que as fraquezas estruturais materiais comprometam de todo o êxito do País nas realizações, pois quem conhece o Brasil sabe que desde os primórdios tudo fica para a última hora e, no final dá tudo mais ou menos certo.
O problema está nas necessidades organizacionais, nas ações estratégicas, no planejamento administrativo e essas são necessidades que vão bem além de atos administrativos, pois passam necessariamente por um envolvimento de lideranças e de comunidades inteiras para o enfrentamento ao fenômeno da faraônica recepção.
É uma prova de fogo que se transformará em um marco. O Brasil, passado o ano de 2016 terá uma outra característica que sequer os brasileiros conseguem hoje imaginar.

terça-feira, 26 de abril de 2011

DIA DO GOLEIRO

Já que existe Dia das Mães, Dia da Criança, Dia do Trabalhador, então precisa existir o Dia do Goleiro e esse dia é hoje! A data também poderia ser chamada de Dia de qualquer um, já que qualquer um tem um pouco de goleiro ou pelo menos reúne os mesmos atributos para tal desempenho. Afinal, flexibilidade, reflexo, posicionamento, impulsão e estatura, independente à dimensão, todos possuímos um pouco.
- Enquanto o goleiro precisa se flexionar para fazer as "pontes", todo precisamos flexibilidade para contornar as dificuldades;
- Enquanto o goleiro precisa ter reflexo para interceptar a bola, todos nós, reles mortais, diante da velocidade do mundo, precisamos aguçar a visão para os perigos que nos ameaçam. É como se a cada momento estivessemos diante da possibilidade de sofrer um gol, ou um golpe;
- Enquanto o goleiro precisa ter posicionamento para estar no lugar certo para a defesa, nós também, precisamos tomar posição e determinar atitudes diante das jogadas da vida que passam em nossa "área";
- Enquanto o goleiro precisa ter impulsão para "voar na defesa", precisamos tomar impulsos na busca de objetivos.
Por fim, hoje a estatura é fundamental para o goleiro, mas isso todos temos. Claro que os goleiros precisam ter estatura física enquanto nós, seres comuns, necessitamos de estatura moral para caminharmos diante das baixezas que o mundo evidencia. É que goleiros precisam altura e humanos precisam grandeza, dois tipos de estatura que fazem a diferença na vida.
Hoje é o Dia do Rogério Ceni, aquele que defende e faz gols, mas também é Dia do Frangueiro, aquele que acaba sendo o culpado de tudo.
Uma vez perguntaram a um treinador qual era o melhor goleiro para ele. Sua resposta foi esvoaçante: "O melhor goleiro só pode ser aquele que sabe fazer golas".
Fora as brincadeiras, fui goleiro grande parte da minha vida, mas acho que também fui muito frangueiro. O importante disso é que aprendi que ser goleiro é saber se posicionar na defesa de uma equipe, é vibrar com a alegria do grupo e assumir a culpa na derrota do time, sempre com algo chamado dignidade.
Feliz Dia do Goleiro!
p.s. Acho que ainda não inventaram o Dia do Goleador e, pelo menos aí o goleiro pode ter alguma vantagem.

domingo, 24 de abril de 2011

FIM DA ERA COALHADA


AMADORISMO JAMAIS

É chegada a hora da decisão para os pequenos e médios clubes brasileiros de futebol: ou buscam o profissionalismo ou acabarão excluidos do cenário desportivo.

As alterações da Lei Pelé são determinantes, exigem qualificação na gestão dos clubes desportivos que deverão se transformar em clubes formadores, aptos e certificados pela Confederação Brasileira de Futebol, algo que a nenhuma entidade do gênero, até o momento, foi proporcionado. É uma novidade determinada em Lei, que ao mesmo tempo está se transformando em uma ferramenta fundamental para a mudança do perfil do futebol brasileiro.
Claro que se analisarmos clubes como Corinthians, Flamengo e a maioria daqueles que compõem a Série A do Campeonato Brasileiro, tudo vai ocorrer na maior tranquilidade. Mas quanto aos times do interior, como será?
Os pequenos e médios clubes precisarão de uma mudança radical, deixando de lado o amadorismo histórico, o passionalismo doentio e a irresponsabilidade tradicional de diretorias de "desportistas" que na verdade não passavam de meros torcedores para uma fase nova, complexa, mas necessária.
Os "cartolas", até que enfim, darão lugar a gestores!
Se tudo correr como está programado vamos longe, os clubes vão passar a ter novas fontes de renda, em especial as decorrentes dos investimentos nas categorias de base, o marketing esportivo vai deixar de ser privilégio dos gigantes e as arquibancadas acabarão se transformando em cadeiras, e o melhor: tomadas por um público ávido pelo esporte e exigente de verdadeiros espetáculos.
A partir do novo regramento, serão tantas as vantagens oferecidas aos clubes, que estabelecer um plano de crescimento e sustentabilidade, gestão e eficiência, passa a ser algo imprescindível, capaz de fazer com que o esporte mais popular, até então visto como um mero jogo, uma paixão, comece a ser observado como um grande negócio revestido de idealismo, empreendedorismo e responsabilidade.
Por isso, você que torce pelo pequeno clube da sua cidade ou da sua região, precisa saber que a partir da vigência das novas regras da Lei Pelé, somente os clubes organizados poderão passar do período de aventuras para a nova fase de conquistas nas quatro linhas, nos bastidores e, fundamentalmente, na construção de um futuro de sucesso e credibilidade. Quem viver verá.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

A NOVA LEI PELÉ

A LEI DO REI MELHOROU?
As alterações feitas na Lei Pelé são merecedoras de uma aprofundada análise com um natural pré-julgamento de pontos que carecem de aprimoramento. A legislação desportiva do País vem sendo reiteradamente alterada, mas, por enquanto, dois questionamentos considero fundamentais:
1º questionamento: Qual o motivo de a Lei ainda não reconhecer profissionais de outras modalidades além do futebol de campo? Continua a miopía legislativa sobre o horizonte dos atletas das disputas coletivas como futebol feminino, futsal, volei e basquete. As modalidades são mantidas sem vínculo profissional empregatício sob a alegação de que continuando amadoras podem se fazer representar em jogos olímpicos. Ora, o basquete americano é profissional e milionário e isso  não impede que participem de jogos olímpicos, conquanto no Brasil, clubes de esporte coletivo há décadas remuneram seus atletas de maneira "mascarada", devido ao não reconhecimento da profissão pelo Ministério do Trabalho. O Brasil disputa o Mundial de Futebol Feminino, já foi duas vezes vice mundial, tem a melhor jogadora do mundo, atuando na Europa como Profissional, mas aqui ela é considerada amadora, como se fosse possível dizer que a Marta, aquela mesma, multi vencedora da chuteira de ouro da Fifa jogou no Santos FC em 2010 só pelo amor à camiseta.
2º questionamento: A Lei Zico que antecedeu a Lei Pelé, privilegiou os empresários que passaram a detentores de todo o poder no futebol brasileiro, colocando os clubes à mercê de negociações nem sempre vantajosas, que somente eram feitas para garantir a sobrevivência das entidades. Até aí, tudo normal, mas a pergunta que não quer calar: qual a razão da lei desconhecer por completo a participação de agentes na vida dos jogadores de futebol e nas suas relações com os clubes? Fica claro que o objetivo foi privilegiar os grandes empresários que agora podem ser "sócios proprietários" de clubes que venham efetivamente a se tornar empresas. Ainda nesse interim, a transferência internacional de atletas prescinde ou ao menos reconhece a presença do agente(entenda-se empresário ou procurador) nas negociações, forçando-nos a buscar uma explicação para a nova caracterização de lei.
Resumindo, a meu ver, a mudança efetuada na Lei em 2011 é uma pequena passagem para o efetivo amadurecimento das normas deportivas de nosso País, necessitando uma urgente revisão para, em primeiro lugar, alcançar o reconhecimento às profissões de atletas de futebol feminino, futsal, volei e basquete, como meio de instrumentalizar clubes e atletas de um regramento seguro.
Enquanto isso não ocorrer, vamos continuar vendo atletas de futsal atuando como funcionários fantasmas de prefeituras do interior, atletas de futebol feminino firmando "contrato por fora" para atuarem, sem garantia de pagamento de seus salários, além de jogadores e jogadoras de volei e basquete fazendo "bicos" em clubes para o pleno exercício de suas atividades como atletas "semi-profissionais".
Salvo melhor juízo, a lei ainda é capenga, pois não reconhece profissionais que atuam sob sua própria conta e risco em categorias ainda não reconhecidas, exclui a presença do empresário na relação atleta/clube, tentando tapar o sol com peneira para se recuperar com os clubes, tão lesados pela própria lei ao longo de quase duas décadas e, finalmente, é implantada a despeito da realidade vigente, sem evidenciar qualquer inclinação a um efetivo enquadramento às formas globalizadas de gestão do esporte.

Claro que houve muitos progressos com as alterações trazidas à lei, mas sobre isso, escrevo depois.