terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O QUE É FUTEBOL

Ouvindo o programa Sala de Redação na tarde de ontem (19/12/2011), fiquei pasmo diante da falta de concordância com algo que ficou plácido na final mundial entre Barcelona e Santos, em que o Barcelona jogou como jogava o Santos na década de 60 e o Santos jogou como o sempre jogou o Santos de Murici Ramalho em 2011.
Diante do futebol jogado pela equipe catalã, os comentaristas fizeram conjecturas variadas e estéreis pois não condizentes com a realidade do futebol jogado pelo melhor time do mundo que, em resumo, é feito com o mais perfeito ingrediente do futebol: a simplicidade.
Qualquer criança concorda que é mais fácil dar um passe que fazer um drible e todos concordam que estar no lugar certo e na hora certa é mais eficaz que tentar andar por todos os lugares.
Ora, o barcelona desenvolve um futebol simples, de passes certos no tempo ideal para evitar a reação do adversário e isso é conseguido através de muito treinamento com atletas qualificados e eficientes, tanto no passar como no receber a bola com velocidade e precisão.
Ficar palpitando se o esquema é 4-4-2 ou 3-5-2, vá lá, é o máximo que conseguem enxergar os leigos da bola. Agora supor que o Barcelona adota o 5-7-0 ??? Aí já é realidade transformada em ficção.
É óbvio que um time que possui um passe perfeito, não pode prescindir da volatilidade nos posicionamentos e isso o Barça faz com desenvoltura e mais caprichadamente o fez contra o Santos, pois aquele era o momento de provar se eram eles realmente os "melhores do mundo". Para o Santos, era um tiro na lua.
Claro que o Messi faz uma diferença, aliás, a diferença é que além de passar e receber bem os passes, ele tem o talento do drible rápido, o que não autoriza que o "craque" do Santos diga que foi uma aula de futebol. Não mesmo, o que aconteceu foi apenas uma lição de um futebol jogado a partir de muito treinamento e de um espírito de equilíbrio acrescentado de harmonia entre os jogadores.
Quando eu ainda era menino nas categorias de base do Grêmilo, via os saudosos treinadores Adão Pereira e Paulo Lumumba insistirem que seus jogadores ofensivos aprendessem a conduzir a bola próxima do corpo com toquezinhos sutis, de modo a evitar que ela fosse "roubada" por um marcador mais atento. O resultado apareceu nos inúmeros craques que marcaram gerações inteiras de grandes jogadores da década de 80, em especial no time do Grêmio que papou o mundial com Renato Portaluppi e outros.
Portanto, apesar de adorar o programa da Gaúcha e reconhecer nos seus participantes os melhores analistas de futebol do Brasil, não posso deixar de dizer que a constância da repetição sobre o que é futebol os está impedindo de perceber que a diferença do melhor time do mundo está no fato de ser igual aos melhores times que o mundo já viu jogar, seja Santos dos anos 60, Seleção Brasileira de 70, Flamengo dos anos 70/80, dentre outros que tinham nas tabelas, nos passes rápidos e no envolvimento dos adversários pelo passe, sua marca diferencial.
Reconhecer que o Barcelona joga de maneira simples é um ato que exige muita coragem. Fica mais fácil e menos perigoso apenas afirmar que o Barcelona é uma exceção na história da humanidade e que o "Carrossel Holandes" que assombrou o mundo, nada mais foi que uma ilusão do passado.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

O FRANGO VOADOR

Existe a fábula infantil do Patinho Feio, que chocado e criado pelas galinhas, ao descobrir que era pato voltou a ser feliz e se encontrou navegando como um belo de sua estirpe, esquecendo o malfadado período do galinheiro, quando era maltratado pela diferença que tinha dos irmãos. Mesmo diante desta fábula magnífica, há uma nova que não quer calar: éa do Frango Voador.
A história inicia da mesma maneira, mas se estende até o momento em que ao descobrir que era um pato, resolveu abrir as asas e se libertar da opressão do galinheiro.
Só que diferente do patinho feio, quando voou, se afastando do galinheiro, as galinhas, muito ignorantes, pensaram que ele era um frango voador e ficaram a cocorejar impressionadas com o inédito feito. Batiam as asas na tentativa de imitar o jovem frango voador, mas não saíam do chão.
Ele poderia terpartido para sempre, mas tratando-se de um pato de princípios nobres, resolveu retornar ao galinheiro para demonstrar que não tinha mágoas com as galinhas que tanto o maltrataram na infância e que agora, vendo ele um frango voador, poderiam  dar a ele um pouco do carinho que haviam economizado.
Ledo engano do pato: o "frango voador" como era conhecido desde recente partida, ao retornar foi recebido com desprezo e raiva.
Já de início as galinhas começaram a cocorejar como se vaiassem e aquela que fora sua chocadeira-mãe virou-lhe as costas, enquanto o galo, cheio de arrogância peitou-o determinando que desaparecesse dali.
Porém, como havia crescido e ficado mais forte, não se amedrontou com o galo, alçou vôo até o ponto mais alto do puleiro e entoou o seu "quá" que estava guardado.
Mais um instante e partiu para nunca mais voltar.
Ele foi feliz para sempre e ainda dá suas patadas naquela região.
Já o galinheiro continua lá, cheio de galinhas e com um galo que não é de nada, mas acha que é de tudo.
Assim é a vida dos homens. Aqueles que descobrem que não são frango do mesmo galinheiro, encontrando meios para voar, partem e não mais voltam.
Se retornarem, as galinhas e os frangos ficarão incomodados pelo seu talento incomum e o galo vai buscar meios de expulsá-lo.
É que mentes galináceas jamais vão entender o valor da vida que há além do galinheiro.