quinta-feira, 30 de abril de 2009

O PÁSSARO BOMBEIRO FUGIU

O nome da foto ao lado é Código Ambiental de Santa Catarina. Infelizmente este é o retrato de um Código elaborado e recentemente aprovado, levando em conta o interesse comercial imediato dos produtores rurais e o espírito eleitoreiro das lideranças políticas. O Código Ambiental aprovado pela Assembléia Legislativa Catarinense é uma das atitudes mais infelizes da história do lugar.
O Código é inconstitucional por essência, retrógrado por excelência e covarde por natureza. Sua elaboração, diferente da forma como foi construído o Código Florestal Brasileiro, aqui não contou com a participação de especialistas. Foi elaborado por produtores rurais e sua justificativa veio de "audiências Públicas", promovidas pelos criadores de suínos e aves.
Seus principais pontos são relacionados às matas ciliares (que margeiam os rios) e a localização das pocilgas. A agressão não é somente à Lei Federal, mas fundamentalmente ao bom senso. Diminuir a mata ciliar é promover o assoreamento dos rios; desmatar é estimular a fragilização do solo (lembram do que ocorreu recentemente com as enchentes); permitir a instalação dos criatórios de porcos próximos às nascentes e aos rios, se constitui em injetar coliformes fecais e infectar a água, sem esquecer da consequente contaminação do lençol freatico. Vale destacar que a tão propalada gripe suína é comprovadamente originada pela falta de higidez na criação de suínos no México e hoje invade todo o planeta.
Santa Catarina é um Estado bonito, de pessoas simples e acolhedoras, mas de lideranças estúpidas e inconsequentes. O que mais me choca é que a maioria da população está apoiando esta infeliz iniciativa. Ao me posicionar contrário à Lei, recebi inúmeras manifestações que tentam defender o ilógico.
Quantas enchentes virão? Quantos tornados serão arremessados? Preciso reconhecer que perto da iniciativa de afrontar o Código Florestal Brasileiro, os fenômenos naturais são singelos. Lembrei do pássaro que com uma folha carregava gotas de água para apagar o fogo na floresta, mas na versão que vejo, ao invés de pássaros, são deputados, inúmeros produtores rurais e um governador do Estado carregando lenha. Desse jeito até o passarinho da história heróica acaba desistindo.

terça-feira, 28 de abril de 2009

AS TORRES DO CENTRO HISTÓRICO



Olho para as três torres e imagino o que grava minha memória. Por vezes um pedacinho de retrato representa mais que a paisagem toda. A foto desta postagem tem um misto de nostalgia com carinho, de saudade com amor e da certeza de que ali é o centro da minha cidade. A obra fotográfica é da Alma Gêmea. Maria Inês fotografou quem estava na calçada ao lado do Palácio da Justiça, guardou a lembrança do companheiro de sempre, agora engravatado. Quando vi a foto, veio um arrepio na alma e percebi que meu momento estava registrando também as torres mais bonitas daquele lugar.
Elas estão ali, quietinhas, duas na catedral e uma no monumento em homenagem ao Herói Bento Gonçalves. Embaixo existe uma mistura de carros com sábias árvores. Na memória há uma mística do protesto dos insatisfeitos diante da empáfia dos que conseguem se satisfazer com o poder. A Praça não é só a da Matriz para os protestantes, também é a Praça da Catedral para os religiosos e a partir daquele momento se transformou apenas em Praça do Centro da minha cidade. Uma Igreja para rezar, uma sombra para descansar, uma Assembléia para se saber como é politizar, um Palácio da Justiça para saber que há de se julgar e um Palácio do Governo para se ter a quem reclamar. Que bom que o Teatro também fica por ali, como bálsamo para os privilegiados do coração e da mente. Aos que buscam um caminho, uma magnífica biblioteca fica bem pertinho.
Parei naquele dia e entendi que ali é verdadeiramente o centro de Porto Alegre. Lembrei das cidades modernas com um lugarzinho que chamam de "Centro Histórico". Isso! Ali é o Centro Histórico de Porto Alegre! Quando morei na Fernando Machado, antiga rua do Arvoredo, poucas vezes frequentei aquele lugar. No entanto, naquele dia eu precisava estar ali: no centro de Porto Alegre, implodindo de emoção com a carteira da OAB/RS, a emoção e eu.
Foi então que percebi: aquelas torres fazem parte do espetáculo.
Melhor? Só se o Guaíba ficasse na Fernando Machado e o pôr-do-sol pudesse ser observado da sombra de uma sábia árvore da Praça da Matriz!
Aquele pedaçinho de foto me devolveu a vontade de escrever e cá estou.