domingo, 27 de novembro de 2011

A NOVA ADVOCACIA

Existe uma nova advocacia no Brasil, diversa daquela em que o trabalho acontecia dentro de uma formalidade estável e as leis eram companheiras da consciência coletiva. Como dizem os colegas experientes, advogar era o ato de representar o cidadão ou a instituição a partir da transcrição lógica dos fatos à realidade jurídica, o que hoje é impossível de acontecer.
A nova advocacia exige muito mais dos profissionais, que atualmente precisam estar além da interpretação lógica dos fatos, passando a atuarem como intérpretes dos fins buscados pelos clientes. Não é mais apenas defender direitos: é defender idéias, sabendo que a riqueza das informações serve tanto para subsidiar os atos jurídicos, como para fragilizar as teses que delas se extraiam.
Simplificando, o meu escrito de hoje é um alerta para o fato de que atualmente, quando um cliente chega ao seu escritório, você, como advogado, não pode se dar ao luxo de inventar, criar expectativas ou mesmo prometer, mas necessita alertar sobre os riscos que existem no curso das ações jurídicas.
É comum receber clientes que chegam orientados por alguns colegas que dizem que tudo é possível. Mando-os de volta aos "sábios" que os orientaram ou ofertaram seus serviços, mesmo que isso me doa pelo prejuízo econômico.
Parece que todo o empregado demitido tem direito a receber além do que lhe foi pago, mesmo que tudo o que se pagou tenha sido correto! Há clientes que chegam a dizer que possuem "amigos" que poderão funcionar como testemunhas. Há também os casos daquela pessoa que deve até os dentes, mas ouviu que uma amiga que estava na mesma situação foi a um escritório que deu um "jeitinho" e a tirou da lista dos devedores. Dia desses uma pessoa chegou aqui dizendo que queria "ferrar" um vizinho pois tal pessoa estaria gastando muito dinheiro e que provavelmente estivesse envolvida com o tráfico. As afirmações possuem um conteúdo que resultam de uma imagem errada que um grande número de pessoas possui sobre o papel do advogado. Ora, que absurdo é viver neste novo tempo de advocacia?
Não sou perfeito e tampouco possuo muita experiência, mas me dedico com paixão por todo o ato jurídico que parte de meu escritório. Isso é o que vale e é o motivo dos momentos felizes da minha caminhada.
Sou um advogado novo (apesar dos 48 anos), mas não pertenço a essa nova advocacia onde um colega sequer cumprimenta o outro no elevador, mesmo trabalhando no mesmo prédio, quando deveria enaltecer o seu par; onde o valor do trabalho é medido pelo bolso do cliente e não pela complexidade do ato, ou mesmo onde a verdade não precisa ser verdade, mas apenas uma "tese" de uma verdade interessante para o meu cliente.
É impressionante como as pessoas não pensam mais em ver os seus direitos atendidos, mas apenas os seus interesses são os fatores que valem e, pior, alguns profissionais coadunam com essa posição, estimulando que se analise a causa pelo interesse e não pelo direito.
A Justiça não pode servir aos interesses de um quando a este não é garantido o direito. É uma frase simples, objetiva e inquestionável, mas esquecida por aqueles que precisariam lembrar todos os dias que a nossa vida é passageira e que devemos fazer o melhor possível para que a humanidade evolua.
Esforcei-me um tanto e mais para passar no Exame de Ordem, lutei muito e tive grande apoio para abrir meu escritório, e é por essas razões que sou feliz com o que faço. Mesmo assim, dói saber que alguns profissionais não honram tão valoroso labor e contribuem para que, apesar de todo o bem que se faz nesta operosa missão, ainda esteja na consciência popular que o advogado é uma inteligência na defesa da injustiça.
O Brasil necessita e merece discutir a ética no exercício da advocacia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário